segunda-feira, 20 de julho de 2009

DUBLAGEM – “CAVALEIRO” DAS TREVAS(?)


Sou um grande fã e admirador das dublagens brasileiras e, não raramente, navego em fóruns e sites especializados... Mas confesso minha decepção com a versão brasileira do melhor filme do Batman já produzido, Cavaleiro das Trevas (2008). As razões pra tanto podem convencer ou não, mas acho que são justas.

O veterano Márcio Simões, ator de talento e versatilidade incontestáveis, que emprestou sua voz ao inesquecível Coringa de Heath Ledger foi polêmica desde o início. Numa entrevista concedida por ocasião do lançamento do longa, Márcio dizia ter ficado preocupado quando soube de sua escalação para dublar um ator tão jovem... Mas ele “relaxou” quando ouviu a voz do personagem composto por Ledger. Discordo. Não justifica. Acredito que se Ledger esforçou-se em impor uma voz condizente com sua versão para o Coringa, um dublador jovem, como Paulo Vignolo – a voz que mais ouvi dublando Ledger no Brasil – devia propor-se ao mesmo desafio de interpretação, por exemplo. Márcio é foda, mas deveria ter se limitado a dar continuidade a Lucius Fox (Morgan Freeman), que dublou em Batman Begins. A voz de Dário de Castro não fica ruim em Freeman, mas não empolga como quando Simões está no comando.

Por outro lado, felizmente, Ettore Zoim não escorrega no exagero de Christian Bale e do diretor C.Nolan. A voz de trovão do Batman de Bale (que eu acho fodástica) não agradou os estadunidenses, gerando um fanfic que escrotiza com a seqüência do interrogatório (se não viu esta paródia, corra para o youtube após ler este texto e divirta-se). Ettore imposta sua voz, mas não permite que isso comprometa o entendimento das palavras. Excelente! Lembro que quando assisti o primeiro trailer de Batman Begins, pensei que Guilherme Briggs deveria vir a dublar Bale novamente, talvez num estilo próximo ao que havia feito em Reino de Fogo, dada a melancolia de ambos os personagens... Ettore, no entanto, não deixa a desejar.

Ainda quanto às vozes, tenho uma queixa para a personagem Rachel Dowes. Fernanda Fernandes é ótima e está ótima, mas a personagem já havia sido “interpretada” por Priscila Amorim. Está certo, houve a troca de Katie Holmes (cuja beleza deixa saudades), mas eu gostaria de ouvir certa “unidade” quanto às vozes da versão brasileira de um filme para o outro (como no caso de Márcio Simões com Freeman). Ouvir Priscila Amorim dublando a policial Ramirez incomoda ainda mais por conta de sua atuação caprichada para Rachel em Batman Begins.

Pádua Moreira, bem sucedido diretor de dublagem da saga STAR WARS e voz de Lorde Vader, infelizmente cometeu alguns equívocos na direção desta dublagem. Márcio Seixas esteve ótimo como Alfred em Begins e não podia ficar de fora. Hélio Ribeiro envelhece Harvey Dent... Uma pena, mas o pior vem a seguir.

O que principalmente desabona a dublagem de Cavaleiro das Trevas é o texto. Como alguém pôde aprovar aquilo? Num dos primeiros trailers do filme, somos apresentados a seqüência de ação na festa para Dent na cobertura Wayne e lá vemos Rachel reagir ao Coringa... que diz algo como “você é uma pessoa agressiva. Eu gosto disso” – “então você vai me adorar” diz Batman ao entrar em cena golpeando o Coringa. Na versão brasileira do filme, na referida seqüência, Márcio Simões profere algo como “a mocinha é agressiva. Eu gosto disso”. Batman entra em cena com a exata frase citada acima... Quer dizer que ele concorda em ser um “mocinha agressiva”??? Se estiver duvidando do exposto aqui, confira e fique de queixo caído como este que vos escreve. Caraca, essa adaptação (ou a falta dela) fere tudo que Nolan propõe! Chega a soar pejorativo! Uma falta imperdoável diante de um notório e esmerado esforço de construção de um “novo” modo de fazer o personagem Batman, o CavaleirO das Trevas. Imperdoável colocar isso em questão devido a uma frase tosca e mal encaixada na dublagem!

Num certo aspecto, até a versão legendada peca (o que não é surpresa). Têm-se um filme sabidamente violento e com uma censura apropriadamente estipulada, então, que problemas havia em expor corretamente a fala de Harvey ao ser abordado pela imprensa, após ser resgatado pela polícia de Gotham? Perceba, o valente promotor diz a mídia presente que imaginava que Batman fizesse a coisa certa: “salvar meu traseiro” (em inglês) – estranhamente amenizado para “salvar minha pele” (nas versões em português).

Por fim, apesar de meu desapontamento quanto à versão dublada de um filme que serei fã para sempre, não deixo de crer e curtir a dublagem brasileira. O fato de chamarem Guilherme Briggs, meu dublador predileto, dirigir Watchmen é significativo, pois se deve a reconhecida afinidade deste super ator com o universo dos quadrinhos. Espero que, no futuro, a direção de dublagem seja atribuída a um diretor potencial por sua familiaridade e conhecimento do tema. Nesse sentido, Manolo e Briggs, por exemplo, não devem ser esquecidos, hein!


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